terça-feira, 20 de fevereiro de 2018

Como a psicologia do mercado faz variar os preços das ações


Muitas pessoas se perguntam sobre quais seriam os fatores que afetam as variações dos preços das ações em Bolsa de Valores. Evidentemente que os preços das ações são determinados pelo mercado, em função das ofertas dos vendedores e das demandas dos compradores. Mas, infelizmente, não há uma equação garantida que nos diga exatamente como o preço das ações se comportarão. Sabemos algumas coisas sobre as forças que movem os preços de uma ação para cima ou para baixo. 
As emoções e o estado mental de quem investe no mercado de ações são aspectos críticos para o sucesso. Afinal de contas, todos são seres humanos e os seres humanos são criaturas emocionais que às vezes negligenciam o conhecimento e a racionalidade que devem ser levadas em conta em um processo de tomada de decisão. No mundo da alta octanagem da negociação, as emoções, como medo, ganância e pânico podem ser acionadas rapidamente enquanto as variações de preços se movem entre ganhos e perdas. Psicologia de negociação não é preto ou branco.
Pelo menos, três categorias podem ser evidenciadas: fatores fundamentalistas, fatores técnicos e sentimento do mercado (a famosa psicologia do mercado).

Fatores Fundamentalitas

Em um mercado eficiente, os preços das ações seriam determinados principalmente por fundamentos (ou o desempenho financeiro das empresas), que, no nível básico, referem-se a uma combinação de duas coisas:
1. uma base de ganhos, como o  lucro por ação (LPA).
2. um  múltiplo de avaliação, como uma relação preço/luco (P/L).
O proprietário de uma ação tem direito sobre os ganhos e o lucro por ação (LPA) de uma empresa; é o retorno do proprietário sobre o investimento. Quando compramos uma ação, estamos comprando uma parcela proporcional de todo um fluxo futuro de ganhos da empresa. Essa é a razão do múltiplo de avaliação: é o preço que você está disposto a pagar pelo fluxo futuro de ganhos.
Parte desses ganhos podem ser distribuídos como dividendos, enquanto o restante será retido pela empresa (em seu nome), para reinvestimento. Podemos pensar no fluxo de ganhos futuros em função do nível atual de ganhos e do crescimento esperado nesta base de ganhos.

Fatores técnicos

Os fatores técnicos são a combinação de condições externas que alteram a oferta e a demanda das ações de uma empresa. Alguns deles afetam indiretamente os fundamentos. (Por exemplo, o crescimento econômico contribui indiretamente para o crescimento do lucro).
Dentre os fatores técnicos podem ser destacados os seguintes:
Inflação - A inflação aparece como uma contribuição para o múltiplo da avaliação, e é um grande fator influenciador, sob uma perspectiva técnica. A baixa inflação tem uma forte correlação inversa com os múltiplos de avaliação (baixa inflação impulsiona os múltiplos para cima e alta inflação impulsiona os múltiplos para baixo). A deflação, por outro lado, é geralmente ruim para ações, pois significa uma perda no poder dos preços para as empresas. 
Força econômica do mercado e dos pares - As ações de uma empresa tendem a se comparar com o mercado e com seus parceiros setoriais ou industriais. Algumas empresas de investimento argumentam que a combinação dos movimentos globais do mercado e do setor - em oposição ao desempenho individual de uma empresa - determinam a maioria do movimento dos preços das ações. (Há uma pesquisa que sugere que os fatores econômicos/do mercado representam 90% do movimento dos preços das ações). Por exemplo, uma perspectiva repentinamente negativa para uma ação do setor varejo muitas vezes prejudica outras ações deste setor, como uma "culpa por associação", que reduz a demanda por todo o setor.
Substitutos - As empresas competem por montantes de investimento com outras classes de ativos em um estágio global. Estes incluem títulos corporativos, títulos do governo, commodities, imóveis e ações estrangeiras. A relação entre a demanda por ações do Brasil e seus substitutos não é difícil de se identificar e desempenha um papel importante.
Transações incidentais - As transações incidentais são compras ou vendas de ações que são motivadas por algo diferente da crença no valor intrínseco da ação. Essas transações incluem transações internas à empresa, que geralmente são pré-agendadas ou conduzidas por objetivos de portfólio. Outro exemplo é o de uma instituição que compra ações para proteger algum outro investimento. Embora essas transações possam não representar fatores realistas para ou contra a ação, elas afetam a oferta e a demanda e, portanto, podem fazer variar os preços.
Demografia - Algumas pesquisas importantes foram feitas sobre a demografia dos investidores. Grande parte disso diz respeito a estas duas categorias:
1.   investidores de meia-idade, que têm salários altos, tendem a investir no mercado de ações
2.  investidores de idades mais avançadas tendem a vender parte de sua participação no mercado para atender demandas devido à de aposentadoria
A hipótese é que, quanto maior a proporção de investidores de meia idade entre a população investidora, maior a demanda por ações e maior os múltiplos de avaliação. 
Tendências - Muitas vezes, uma ação simplesmente se move de acordo com uma tendência de curto prazo. Por um lado, uma ação que está subindo pode ganhar impulso, pois "o sucesso gera sucesso" e as bandeiras de popularidade da ação sobem para valores mais altos. Por outro lado, uma ação às vezes se comporta de maneira oposta a uma tendência e faz o que é chamado de reverter para a média. Infelizmente, como as tendências mudam com frequência e são mais óbvias quando fazemos uma retrospectiva dos preços, saber quais ações estão "na moda" não nos ajuda a prever o futuro. (Nota: Tendências também podem ser classificadas como um sentimento do mercado).
A tendência tem sido uma grande aliada do investidor em ações, há muitos anos. Portanto, não deve ser contrariada, mas sim levada em conta com a devida cautela e expectativa.
Precisamos entender que não é possível controlar a Bolsa de Valores; é preciso se controlar (aqui é onde entram as finanças comportamentais, que serão abordadas mais adiante). Precisamos entender que em lugar de tentar controlar a Bolsa, é preciso se controlar. Se nadarmos contra a corrente (tendência), acabaremos por nos afogar (perdendo dinheiro). Quem nada contra a corrente (tendência) acaba se afogando (perdendo muito dinheiro).
Liquidez - A liquidez é um fator importante e às vezes pouco considerado. Refere-se à quantidade de interesse e atenção do investidor para com uma ação específica. A ação da Vale, por exemplo, é altamente líquida e, portanto, altamente suscetível às notícias relevantes; para uma empresa média, de pequena capitalização, isto é de menor consequência. O volume de negociação não é apenas um indicativo para a liquidez, mas também é função das comunicações corporativas (ou seja, o grau em que a empresa está recebendo atenção da comunidade de investidores). As ações de grandes empresas têm alta liquidez - elas são bem seguidas e muito negociadas. Muitas ações de empresas de pequena capitalização sofrem com um "desconto de liquidez" quase permanente, porque simplesmente não estão nas telas de radar dos investidores. 

A análise técnica utiliza um conjunto de gráficos e indicadores para identificar um bom momento de compra ou venda de ativos. É sempre considerado um padrão histórico no comportamento dos preços. Quem trabalha com fatores técnicos precisa levar em conta que deve: desligar-se de notícias; parar de ouvir conselhos de operadores, ou de amigos que "entendem" de Bolsa; e concentrar-se em sinais objetivos e mensuráveis, com a finalidade de procurar identificar: quando comprar uma determinada ação (a qual preço de entrada); quando vender esta ação (a qual preço de saída); qual é a perda máxima que está disposto a encarar, caso a operação dê errado; e qual o ganho mínimo que está disposto a considerar para não colocar seu investimento em risco.
É preciso saber de tudo isso antes de entrar em qualquer operação em Bolsa de Valores. Estes sete fatores técnicos estão apenas arranhando a superfície dos muitos fatores técnicos diferentes que podem ter um impacto no mercado.

Sentimento de mercado (A psicologia do mercado)

Quão importante é a psicologia durante uma aplicação em Bolsa? Digamos apenas que o estado psicológico dos investidores e do público em geral têm sido estudados longamente por teóricos comportamentais, economistas e pelos próprios investidores. Estes estudos produziram algumas importantes descobertas sobre o impacto negativo das emoções durante as negociações, e como investidores podem aprender a controlar as armadilhas que a mente lhes cobra tão caro no mercado. 
O sentimento do mercado refere-se à psicologia dos participantes do mercado, individual e coletivamente. Esta é talvez a categoria mais irritante porque sabemos que isso é crítico, mas estamos apenas começando a entender. O sentimento do mercado é muitas vezes subjetivo, tendencioso e obstinado. Por exemplo, você pode fazer um julgamento sólido sobre as perspectivas de crescimento futuro de uma ação, e o futuro pode até mesmo confirmar suas projeções, mas, entretanto, o mercado pode considerar de forma míope uma única notícia que mantém a ação com um valor artificialmente alto ou baixo. E às vezes você pode aguardar muito tempo na esperança de que outros investidores percebam os fundamentos. 
O sentimento do mercado está sendo explorado pelo campo relativamente novo das finanças comportamentais. Começa com o pressuposto de que os mercados aparentemente não são eficientes na maioria das vezes, e essa ineficiência pode ser explicada pela psicologia e outras ciências sociais. A ideia de aplicar a ciência social para a área financeira foi totalmente legitimada quando Daniel Kahneman, um psicólogo, ganhou o Prêmio Nobel de Economia de 2002 - ele foi o primeiro psicólogo a fazê-lo. Muitas das ideias em finanças comportamentais confirmam suspeitas observáveis: que os investidores tendem a enfatizar excessivamente os dados que são fáceis de pensar; que muitos investidores reagem com maior dor às perdas do que com prazer aos ganhos equivalentes; e que os investidores tendem a persistir em um erro.
Alguns investidores afirmam ser capazes de capitalizar a teoria das finanças comportamentais. Para a maioria, no entanto, o campo é novo o suficiente para entender como a categoria "captura nominal", onde tudo o que não podemos explicar está contido.

Conclusão

Diferentes tipos de investidores dependem de diferentes fatores. Investidores e negociadores de curto prazo tendem a incorporar e até mesmo priorizar os fatores técnicos. Os investidores de longo prazo priorizam os fundamentos e reconhecem que os fatores técnicos desempenham um papel importante. Os investidores que acreditam fortemente nos fundamentos podem conciliar-se com as forças técnicas com o seguinte argumento popular: os fatores técnicos e o sentimento do mercado muitas vezes dominam o curto prazo, mas os fundamentos definirão o preço das ações no longo prazo. Enquanto isso, podemos esperar desenvolvimentos mais interessantes na área de finanças comportamentais, uma vez que as teorias financeiras tradicionais não conseguem explicar tudo o que acontece no mercado.
Há que se considerar que quando usamos as ferramentas técnicas, o seu valor não pode ser exagerado. E cada vez que aplicarmos uma ferramenta de análise técnica, estaremos calculando um consenso de otimismo ou pessimismo entre todos os participantes do mercado. 

Referência para o texto: Investopedia.com